domingo, 8 de maio de 2011

ATIVIDADE - 3º Ano NOTURNO

Salve, galera!
Desculpe a demora pela postagem do texto.
Segue abaixo o texto sobre EDUCAÇÃO extraído do livro "Cidadão de Papel". As questões a serem respondidas são as que seguem no final do texto, sugeridas pelo autor (Gilberto Dimenstein).


Educação

■ Tragédia educacional
Estamos chegando à última parte do livro. Não foi por acaso que o tema educação ficou para o final. Durante todo o texto, falamos em círculo vicioso, ou seja, você foi vendo como a pobreza reproduz pobreza.
A família é pobre. Mora numa casa onde não tem saneamento básico. O ambiente facilita a transmissão de doenças. As doenças enfraquecem o corpo, que fica desnutrido. A criança desnutrida não aprende direito o que é ensinado. E quem não estuda não consegue arrumar um bom emprego.
Um jeito de quebrar esse círculo tenebroso é a educação. Isto porque uma pessoa instruída pode defender melhor os seus direitos e sabe quais são as suas obrigações.
São muitos os países que progrediram porque investi­ram nas suas crianças. Quando as crianças cresceram, viraram trabalhadores qualificados e cientistas, por exemplo. Para começar, esses países investiram no ensino fundamental. Isso explica, em grande parte, o rápido desenvolvimento do Japão e de outras nações do leste da Ásia.
Vamos pegar o exemplo da Coréia do Sul, que, nas décadas de 50 e 60, estava em situação parecida com a do Brasil de hoje. Em vinte anos, entre 1950 e 1970, o analfabetismo caiu de 78% para 11%.
No começo da década de 80 praticamente não tinha mais analfabetos naquele país. Imagine que em 1970 só a metade das crianças com idade entre doze e quatorze anos ia à escola. Quinze anos depois, quase todas as crianças estavam estudando. Na faixa dos quinze aos dezenove anos, 29% cursavam o segundo grau em 1970. Em 1987, 83% dosjovens com essa idade frequentavam escolas.
                                  
■ Impacto econômico
A educação não é apenas uma questão de cidadania. O nível de instrução do trabalhador tem relação direta com a produtividade e, portanto, com a riqueza material de um país.
É bom lembrar a diferença entre produtividade e produ­ção. Imagine duas fábricas de automóveis com o mesmo número de funcionários.
Uma delas consegue fazer cem carros por mês e a outra, só cinquenta. Isso significa que a produtividade da primeira fábrica é o dobro da segunda.
Na prática, produtividade é reduzir o desperdício, apro­veitando melhor o tempo e os recursos. Se, em uma hora, você consegue aprender mais coisas do que o seu colega de classe, sua produtividade é maior.
A taxa de desperdício é alta no Brasil. Na construção de um prédio, boa parte do material acaba se perdendo. O Ministério da Indústria e do Comércio calcula que a parcela que vai para o lixo é de 35%.
Com isso, um apartamento que poderia custar US$ 50 mil sai por mais de US$ 67 mil. E o que acontece na construção civil se repete na agricultura. Com mais instrução, a produtividade poderia aumentar.
Se o homem do campo aprendesse melhores técnicas agrícolas, teria uma colheita maior, sem gastar tanto. Com isso, os alimentos custariam menos. E um aumento de produtividade é muito importante em um país onde a fome é um dos principais problemas.
Cada vez mais a falta de instrução dificulta a vida das pessoas. A tendência é que as empresas deixem de empregar um trabalhador que não pense. Não querem mais alguém apertando botões, numa produção em série. Com o avanço tecnológico, exige-se um operário que raciocine, tome decisões e avalie a qualidade do produto. Ele precisa manejar sofisticadas máquinas computadorizadas.
Um levantamento realizado em 1985 mostra que metade dos trabalhadores da indústria brasileira não tinha estudado mais de quatro anos. Só 13% haviam concluído o primeiro grau. Essa escolaridade ajuda a explicar por que o Brasil, segundo a Organização Internacional do Trabalho, é o campeão mundial de acidentes de traba­lho. O operário não conhece nem as regras básicas de segurança. Poucos patrões investem em segurança. E o pior: o governo não fiscaliza.

■ Evasão e repetência
O trabalhador sem instrução é apenas uma consequên­cia previsível de uma sociedade onde as desigualdades são muito grandes.
O número de matrículas no ensino básico aumentou nos últimos anos. Mesmo assim, 2, 5 milhões de crianças brasileiras nunca colocaram o pé na escola. Mas a desigualdade social não aparece só no número de matrículas.
Ela está no nível de ensino, reflexo direto da qualidade do professor e de quanto ele ganha. Segundo o Minis­tério da Educação, o salário médio de um professor com nível universitário gira em torno de US$ 150. Os menos qualificados recebem por volta de US$ 80.
A remuneração acaba determinando a qualificação. Somente 37% dos professores fizeram curso superior e 14, 3% têm apenas o primeiro grau completo. Com segundo grau completo são 46, 4%.
Mas a indicação mais fiel da desigualdade social está nos índices de repetência e evasão. Quando a criança deixa a escola, fonte primária de cidadania, ela vai para as ruas e só pode se transformar em mão-de-obra despreparada.
De cada cem crianças que entram na primeira série do primeiro grau, apenas vinte chegam à oitava série. Há uma relação entre evasão e condições de vida dos pais. Os mais pobres exigem que o filho gere renda.
Mas há também uma relação com repetência. O garoto não consegue aprender como deveria. Vai repetindo o ano, até que, desmotivado, procura outro caminho na vida. A mais alta taxa de repetência ocorre logo na primeira série.
Segundo o Ministério da Educação, de três alunos matriculados em qualquer série, apenas um não é repetente.
Em média, os alunos vão embora antes de completarem a quarta série. Isso significa que não aprenderam o mínimo necessário para que, na prática, não sejam analfabetos. Com menos de quatro anos de escolaridade, há uma tendência de esquecer como se escreve ou se lê.

■ Quem é analfabeto
É polêmica a definição de analfabetismo. No Brasil, considera-se oficialmente alfabetizado quem sabe escre­ver um bilhete simples. Mas existem estudos indicando que quem não foi pelo menos quatro anos à escola pode ser considerado um analfabeto de fato.
Sem esses quatro anos para fixar as letras, a pessoa esqueceria o que aprendeu. Dentro desse critério, cal-cula-se que 41% dos brasileiros seriam analfabetos. Essa taxa tem um grave efeito político.
A democracia é o regime que garante a liberdade de todos escolherem seus governantes. Mas só existe liberdade quando se pode optar. E só existe opção quando se tem informação. A capacidade de um analfabeto ter informa-ção é muito limitada. Ninguém pode dizer que é livre para tornar o sorvete que quiser se conhecer apenas o sabor limão.
Para um analfabeto é muito mais difícil avaliar e compa­rar as propostas dos candidatos, notar suas contradi­ções, informar-se sobre o seu passado. Essa dificuldade existe para qualquer pessoa desinformada, analfabeta ou não.
Apesar das advertências sobre suas contradições, publicadas em jornais e revistas, Fernando Collor ven­ceu as eleições à Presidência.
Havia uma série de dados mostrando a diferença entre o que ele prometia e o seu passado, inclusive no campo da moralidade.
No primeiro turno das eleições, a maior parte de seus votos veio de pessoas com menor instrução. Elas se sensibilizaram com a promessa de salvação para os descamisados. Collor perdeu o poder, depois de um processo de impeachment, acusado de corrupção. Isso, apesar de ter ganho a eleição com a bandeira da moralidade.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) fez um perfil revelador dos eleitores. Em 1986, éramos 69 milhões de eleitores. Os analfabetos com primeiro grau incompleto totalizavam 26 milhões. Isso quer dizer que quase 40% de todos os eleitores poderiam ser considerados analfabetos de fato. Eleitores com segundo grau completo eram 6, 7 milhões e com superior completo, 3, 1 milhões.
Por isso, a educação é um dos pilares básicos da democracia. Quanto maior a politização, mais difícil será a vida dos demagogos. Não é apenas uma questão política, mas de reclamar por todos os seus direitos. O direito de não morrer numa fila do Inamps, de ter seus direitos trabalhistas garantidos, de ser indenizado por ter ingerido produtos estragados.

■ Cidadania e escravidão
O analfabetismo é um dos sintomas mais antigos da falta de cidadania. Compromete em vários aspectos aliberda-de de um indivíduo.
Voltemos, agora, ao início deste livro, quando falamos da escravidão. Lá, notamos que não temos muitos motivos para nos orgulharmos de avanços sociais desde o final da escravidão.
Inscrita nas constituições, a cidadania avançou mais no papel do que na prática. Não há nada de novo. Durante o Império, nossa primeira Constituição adotava os prin­cípios de liberdade das revoluções americana e francesa. Mas a escravidão era mantida.
Lembre-se do que foi comentado no início do livro sobre Os filhos de escravos, marginalizados e sem estudo. Hoje se repete aquela mesma situação. Não é à toa que boa parte (60%) dos meninos assassinados são negros. Observe também a cor dos jovens que promoveram arrastões nas praias do Rio, atacando banhistas.
Mão são poucas as coincidências entre os períodos, começando pela educação pública. Quando surgiu o ldecreto de Repressão à Ociosidade, em 1888 - com a criação de instituições do tipo da Febem para garotos que perambulavam pelas ruas -, o deputado Rodrigues Peixoto discursou no Parlamento. Ao questionar a eficá­cia dos asilos correcionais, disse:
Poderemos, é verdade, prescindir desses meios, e chegar ao mesmo resultado por outro caminho, talvez mais nobre, mas essa estrada seria demasiadamente longa; só atingiríamos essa meta depois de muito tempo de havermos despendido largas somas. Quero falar de educação popular. Se nós pudéssemos educar melhor a nossa mocidade, se pudéssemos incutir-lhes as gran-des qualidades que tornam um cidadão útil e o fazem compreender os seus direitos e deveres, poderíamos então prescindir de meios artificiais (... ) Temos, é verda-de, grandes estabelecimentos de instrução superior, alguns dos quais podem enfrentar aqueles que possuem os povos mais civilizados da Europa, mas quanto à instrução primária e secundária, estamos completa-mente atrasados".


QUESTÕES

1. Por que é tão importante investir em educação?
2. Num teste feito com 40 países, entre pobres e ricos, o Brasil ficou nas últimas posições. Que sugestões você daria aos governantes para que essa situação mudasse?
3. Nos últimos anos o Brasil adotou-se a idéia de que os professores deveriam evitar que os alunos repetissem de ano. Com isso, muitos alunos passaram de ano mesmo sem ter um desempenho satisfatório. O que você acha disso? Procure argumentar com objetividade.
4. Você concorda com a política de cotas nas universidades para as minorias? Argumente.