Modernização, desenvolvimento e
dependência
Progresso
e desenvolvimento talvez sejam as palavras que melhor expressam, em nosso
cotidiano, uma possível mudança social. Já vimos como pensavam os autores
clássicos sobre este tema. Vamos examinar a seguir como a questão foi colocada
a partir de meados do século XX.
Características e diferenças das sociedades
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Tradicional
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Moderna
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Particularismo
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Universalismo
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Orientação para a
atribuição
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Orientação para a
realização
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Difusão funcional
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Especificidade
funcional
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Pouca motivação para
o desempenho
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Muita motivação para
o desempenho
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Nenhuma abertura à
experiência
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Grande abertura à
experiência
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Hierarquia
profissional
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Especialização
profissional
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Pouca imaginação
criadora
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Muita imaginação
criadora
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Pequena mobilidade
social
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Grande mobilidade
social
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Resistência às
mudanças
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Abertura às mudanças
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Após
a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) passou-se a perceber que as desigualdades
entre as sociedades do mundo eram gritantes, e algumas grandes vertentes
teóricas se propuseram analisar esse fenômeno, isto é, tentaram explicar por
que algumas sociedades eram desenvolvidas e outras, subdesenvolvidas. É sobre
essas teorias que vamos refletir um pouco.
Teorias
da modernização. A visão
evolucionista da história ganhou novo alento com as teorias da modernização, de
acordo com as quais as mudanças movem as sociedades de um estágio inicial
(tradicional) para um estágio superior (moderno), numa escala de
aperfeiçoamento contínuo.
As
teorias da modernização utilizam os padrões de análise de Émile Durkheim e de
Max Weber, mas com nova roupagem. De acordo com essas teorias, as sociedades
são tradicionais ou modernas conforme as características que adotam. Como
desenvolveram determinadas atitudes e comportamentos e não outros, são
responsáveis pela própria situação. Para se transformar, passando do estágio
atual para o superior, uma sociedade tradicional precisa deixar suas
características para incorporar as modernas.
Essas
teorias tomam como padrões de sociedades modernas as norte-americanas - do
Canadá e dos Estados Unidos - e as européias ocidentais - principalmente a da
França, a da Inglaterra e a da Alemanha. De acordo com tais teorias, as
sociedades tradicionais (atrasadas e subdesenvolvidas) devem seguir o exemplo e
os mesmos passos históricos das sociedades modernas (industrializadas e
desenvolvidas).
Vários
sociólogos dos Estados Unidos, como Talcott Parsons, David McClelland c Daniel
Lerner, e também o argentino Gino Germani, entre outros, utilizaram esquemas
muito parecidos para caracterizar cada tipo de sociedade.
A
mudança social ocorreria quando os indivíduos e os grupos – isto é, as
sociedades – deixassem as características tradicionais e passassem a
internalizar as modernas. Assim, desde' que os valores tradicionais fossem
superados, ocorreria a evolução social modernizante. De acordo com as críticas
mais gerais, essas teorias são etnocêntricas, pois a maioria das nações do
mundo não seguiu as mesmas trajetórias históricas que as sociedades ocidentais.
Ademais, tais teorias definem a trajetória de todas as sociedades como se fosse
linear, ou seja, presumem que as sociedades modernas de hoje foram um dia
tradicionais e se modernizaram porque mudaram sua mentalidade e sua maneira de
ver o mundo. A ênfase é posta na cultura e na visão de mundo das pessoas e dos
grupos sociais, os quais, para mudar, precisariam seguir a mesma trajetória que
as atuais sociedades modernas. Além dessas críticas, outras estão contidas nas
teorias que vamos analisar em seguida.
Teorias do subdesenvolvimento e da
dependência
Após
fazer uma análise crítica das teorias da modernização, vários autores, na
década de 1960, procuraram explicar a questão da diferença entre os países por
um outro ângulo, focalizando a história diferencial de cada sociedade e as
relações econômicas e políticas entre os países. A pergunta que se fazia era a
mesma proposta pelas teorias anteriores: por que os países da América Latina
eram subdesenvolvidos e os da Europa e os Estados Unidos eram desenvolvidos? As
respostas, porém, mudaram.
Esses
autores partiram de uma visão que foi desenvolvida pela Comissão Econômica para
a América Latina (Cepal), da Organização das Nações Unidas (ONU). De acordo com
os estudos da Cepa!, do ponto de vista econômico, nas relações entre países
desenvolvidos e subdesenvolvidos havia uma troca desigual e uma deterioração
dos termos de intercâmbio. Historicamente, isso se explicava por uma divisão
internacional do trabalho, em que cabia aos países periféricos (dominados)
vender aos países centrais (dominantes) produtos primários (agrícolas,
basicamente) e matérias-primas (sobretudo minérios) e comprar produtos
industrializados. Ao longo dos anos, foi necessário que os países periféricos
vendessem mais matérias-primas e agrícolas para pagar a mesma quantidade de
produtos industrializados, ou seja, trabalhavam mais e vendiam mais para
receber o mesmo e assim enriquecer aqueles que já eram ricos.
Os
países centrais e os periféricos tinham um passado diferente. Os países
europeus foram as metrópoles no período colonial, ao passo que os da América
Latina foram as colônias e, depois da independência, passaram a ser dominados
economicamente pela Europa e pelos Estados Unidos. Isso prejudicou a emergência
de forças livres para o desenvolvimento autônomo dos países periféricos.
Andrew
Gunder Frank, sociólogo alemão, afirmava que na América Latina havia apenas o
desenvolvimento do subdesenvolvimento, pois os países centrais, além de
explorar economicamente os periféricos, dominavam-nos politicamente, impedindo
qualquer possibilidade de desenvolvimento autônomo. E essa relação desde o
período colonial explicava por que alguns tinham se desenvolvido e outros não.
Um
segundo grupo de sociólogos, do qual participaram o brasileiro Fernando
Henrique Cardoso e o chileno Enzo Falletto, propôs uma explicação um pouco mais
detalhada dessa relação. De acordo com sua análise, após a primeira fase de
exploração, que durou até o fim da Segunda Guerra Mundial, iniciou-se um novo
movimento que aprofundou a dependência dos países da América Latina. Esta
continuou produzindo os mesmos bens primários para exportação, mas a partir da
década de 1960 houve uma mudança, principalmente no Brasil, na Argentina, no
Chile e no México: a internacionalização da produção industrial dos países
periféricos. Como isso ocorreu?
A
industrialização dependente configurou-se mediante a aliança entre os
empresários estrangeiros e nacionais e o Estado nacional. Os produtos
industriais que antes vinham dos países desenvolvidos começaram a ser
fabricados nos países subdesenvolvidos, porque era mais barato. Além disso, com
a produção local, evitava-se o gasto com o transporte. Mas o fundamental era
que as matérias-primas estavam próximas, a força de trabalho era mais barata e
o Estado dava incentivos fiscais (deixava de cobrar impostos) e construía toda
a infra-estrutura necessária para que essas indústrias se instalassem e
funcionassem. Em alguns países onde havia essas condições, as grandes
indústrias estrangeiras se instalaram e geraram um processo de
industrialização dependente, principalmente, da tecnologia que traziam. Com
isso, além de manter a exploração anterior, os países centrais exploravam
diretamente a força de trabalho das nações subdesenvolvidas.
Essas
teorias procuravam explicar a existência das diferenças entre os países, as
possibilidades de mudança de uma situação a outra e as condições possíveis para
que isso acontecesse no sistema capitalista, sem necessariamente questioná-lo.
BRASIL - Mudanças nos últimos anos
Como
vimos até aqui, muitas coisas mudaram no Brasil e muitas outras foram
conservadas ou não mudaram de modo significativo. Podemos observar que em
alguns lugares o modo de vida assemelha-se ao das sociedades industrializadas
de qualquer parte do mundo. Em outros lugares, principalmente nas áreas rurais,
vive-se uma realidade de extrema pobreza. Nas grandes cidades as duas situações
convivem. Há no mesmo lugar extrema riqueza e extrema pobreza: gente que mora
em condomínios fechados luxuosos e gente que vive embaixo de viadutos.
Politicamente,
pode-se dizer que as regras do jogo democrático estão consolidadas, isto é, as
eleições são realizadas regularmente e os eleitos são empossados e terminam os
mandatos (desde que não sejam julgados e tenham os mandatos extintos, como
ocorreu com o ex-presidente Fernando Collor e vários parlamentares). No
entanto, persistem ainda velhas práticas, como o clientelismo, o
"favor", as decisões judiciais parciais e os conchavos políticos, o
que demonstra que o país não mudou tanto.
Economicamente,
nos últimos 20 anos, houve uma alteração substancial por causa da ampliação da
inserção do Brasil no mundo. Foram necessárias mudanças internas para que o
país pudesse se adequar ao novo padrão internacional de relações políticas e
econômicas. O processo produtivo industrial foi modificado com a entrada de
novas indústrias e a modernização tecnológica, principalmente via automação.
Criou-se uma nova maneira de produzir muito com menos trabalhadores. Isso conduziu
a uma situação estranha, pois o desenvolvimento não implica aumento de vagas de
trabalho.
Houve
também uma mudança no consumo e nas relações entre os indivíduos. Para
indicarmos apenas uma situação, a utilização dos telefones celulares ocasionou
mudanças comportamentais que impressionam - por exemplo, na relação entre os
trabalhadores autônomos e seus clientes; nas relações sentimentais, que incluem
constantes conversas, mas também vigilância; nas relações trabalhistas, pois o
empregado pode ser alcançado em qualquer lugar e hora; na própria
sociabilidade, pois as pessoas não conseguem mais viver sem estar conectadas;
nas formas de consumo, dada a rápida obsolescência dos aparelhos.
Isso
significa que a chamada globalização nos atingiu em cheio. E, como diz
Francisco de Oliveira, sociólogo brasileiro, os meninos nas ruas vendendo
balas, doces e quinquilharias não são o exemplo do atraso do país, mas a forma
terrível como a modernização aqui se implantou.
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