Processos sociais
São diversas maneiras pelas
quais indivíduos e os grupos atuam uns com os outros, a forma pela qual
indivíduos estabelecem relações sociais.
Os alunos de uma escola resolvem
fazer uma limpeza geral no salão de festas para o baile de formatura.
Organizam-se, um ajuda o outro e logo o trabalho está
acabado. Esse resultado foi possível porque houve cooperação. A
cooperação é um tipo de processo social.
Qualquer mudança proveniente dos contatos sociais e da interação social entre os membros de uma sociedade constitui, portanto, um processo social.A palavra processo designa a contínua mudança de alguma coisa numa direção definida. Processo social indica interação social, movimento, mudança. Os processos sociais são diversas maneiras pelas quais os indivíduos e os grupos atuam uns com os outros, a forma pela qual os indivíduos se relacionam e estabelecem relações sociais.
Tipos
de processo social
No grupo social ou na sociedade
como um todo, os indivíduos e os grupos se reúnem e se separam, associam-se e
dissociam-se. Assim, os processos sociais podem ser associativos e
dissociativos.
Os processos associativos
estabelecem formas de cooperação, convivência e consenso no grupo. Já os
dissociativos estão relacionados a formas de divergência, oposição e conflito,
que podem se manifestar de modos diferentes.
Os principais processos sociais associativos são cooperação, acomodação e assimilação.
Os principais processos sociais dissociativos são competição e conflito.
Cooperação
A cooperação é a forma de
interação social na qual diferentes pessoas, grupos ou comunidades trabalham
juntos para um mesmo fim.
São exemplos de cooperação: a
reunião de vizinhos para limpar a rua, ou de pessoas para fazer uma festa;
mutirões de moradores para construir conjuntos habitacionais; sociedades
cooperativas etc.
A cooperação pode ser direta ou
indireta.
Cooperação direta. Compreende as atitudes que as pessoas
realizam juntas, como é caso dos mutirões.
Cooperação indireta. É aquela em que as pessoas, mesmo
realizando trabalhos diferentes, necessitam indiretamente umas das outras, por
não serem autossuficientes. Tomemos o exemplo de um médico e de um lavrador: o
médico não pode viver sem o alimento produzido pelo lavrador, e este necessita
de cuidados médicos quando fica doente.
Competição
“No uso recente, competição é a
forma de interação que implica luta por objetivos escassos; essa interação é
regulada por normas, pode ser direta ou indireta, pessoal ou impessoal, e tende
a excluir o uso da força e da violência” (Dicionário de Ciências Sociais. Rio
de Janeiro, Editora da Fundação Getúlio Vargas, 1987. p. 218).
A competição pode levar
indivíduos a agir uns contra os outros em busca de uma melhor situação. Ela
nasce dos mais variados desejos humanos, como ocupar uma posição social mais
elevada, ter maior importância no grupo social, conquistar riqueza e poder,
vencer um torneio esportivo etc.
Ora, nem todos pode obter os
melhores lugares nas esferas sociais, pois os postos mais importantes são em
número muito menor que seus pretendentes, isto é, são escassos. Assim, os que
pretendem alcançá-los entram em competição com os demais concorrentes. Nessa
disputa, as atenções de cada competidor estão voltadas para a recompensa e não
para os outros concorrentes. Para entender melhor o conceito de competição,
leia o texto “Emprego: a luta por um lugar ao Sol“.
Se você leu o texto sugerido
acima, percebeu que há dois casos de competição: a que existe entre países que
disputam uma fatia do mercado mundial (“concorrência estrangeira”) e a disputa
entre desempregados por postos de trabalho (neste caso, na proporção de mil para
um).
O lojista que procura conquistar
os fregueses de outro comerciante e os estudantes que lutam por uma vaga no
vestibular estão igualmente envolvidos numa relação de competição, da mesma
forma que atletas em um torneio esportivo.
Há sociedades que estimulam mais
a competição que outras. Entre as tribos indígenas, por exemplo, as relações
não são tão acentuadas competitivas como na sociedade capitalista. Esta última
estimula os indivíduos a competirem em todas as suas atividades – na escola, no
trabalho e até no lazer -, exacerbando o individualismo em prejuízo da
cooperação.
Conflito
Quando a competição assume
características de elevada tensão social, sobrevém o conflito.
Diariamente, vemos e ouvimos no
noticiário dos jornais, do rádio, da televisão e da internet relatos de
conflitos em diversas partes do mundo: combates na Colômbia entre tropas do
governo e guerrilheiros ou narcotraficantes; ocupações de fazendas pelo
Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra(MST), no interior do Brasil, às
vezes seguidas (ou precedidas) de assassinatos de líderes sindicais a mando de
grandes fazendeiros (leia o texto “A luta pela terra no Brasil“); motins e
fugas de menores da antiga Fundação Estadual do Bem Estar do Menor (Febem),
atual Fundação CASA/SP, em São Paulo, conflitos entre israelenses e palestinos
no Oriente Médio.
O conflito social é um processo
social, pois provoca mudanças na sociedade. Tomemos o exemplo dos negros
norte-americanos. Depois de violentos choques com a política durante os anos
1960, eles conseguiram ver reconhecidos seus direitos civis. Passados mais de
trinta anos, embora certas formas de racismo e discriminação ainda persistam
nos Estados Unidos, o negro integrou-se, pelo menos em parte, à sociedade
norte-americana.
Assim, diversos negros ocupam
hoje posição de destaque até mesmo no governo dos Estados Unidos, o que antes
era impensável. É o caso, por exemplo, de Colin Powell, que foi secretário de
Estado no governo George W. Bush, além do caso mais recente e que quebrou
diversos paradigmas, com a eleição de Barack Obama, o primeiro presidente negro
da história dos Estados Unidos.
Já no Brasil, o preconceito
racial nunca foi tão ostensivo quanto nos Estados Unidos. Além disso, sempre
foram comuns aqui as uniões inter-raciais, e a miscigenação da população é um
fato que não se pode negar (ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos). Por
essa razão, há quem afirme que no Brasil temos uma “democracia racial”.
No texto, “Onde estão os
negros?“, você verá que não é bem assim. Apesar de a legislação brasileira
proibir quaisquer manifestações de preconceito e discriminação racial, as
desigualdades sociais entre brancos e negros ainda estão longe de terem sido
superadas. Elas indicam também alguma forma de racismo.
COMPETIÇÃO E CONFLITO
Comparando a competição e o
conflito, podemos destacar as seguintes características:
• a
competição pode tomar a forma de luta pela existência, como a que se estabelece
entre indivíduos para obtenção de alimento ou emprego, por exemplo;
• o
conflito pode tomar a forma de rivalidade, disputa, revolta, revolução, litígio
e guerra. O conflito é bem evidente na luta entre seitas religiosas
intolerantes, ou entre patrões e empregados em determinadas situações (greves,
por exemplo), nas disputas pela posse da terra, ou ainda na guerra entre
nações;
• a
competição pode se transformar em conflito. Vejamos um exemplo. Quando numa
escola os alunos lutam para passar de ano, eles não consideram seus
companheiros de classe como adversários, pois sua atenção está dirigida para a
obtenção de boas notas. Alguns estudantes, porém, podem passar a encarar seus
colegas como rivais, quando não desejam apenas passar de ano, mas superá-los.
Um estudante que pretende passar em primeiro lugar pode entrar em conflito com
colegas que tenham a mesma pretensão.
• a
competição pode ser consciente ou inconsciente; o conflito é sempre consciente,
ou seja, os adversários sabem que estão em conflito;
• o
conflito pode implicar violência ou ameaça de violência; já a competição não
envolve violência;
• enquanto
a competição é contínua, o conflito não pode durar permanentemente com o mesmo
nível de tensão;
• no
conflito, o primeiro impulso dos oponentes é tentar agredir e destruir o
adversário. Pessoas ou grupos em conflitos podem canalizar sua tensão tanto
para a guerra como para a criminalidade, ou ainda reduzi-la a um processo de
acomodação.
Terrorismo
O conflito pode levar ainda a
outra forma extrema de violência: o terrorismo, resultado na maioria das vezes
do extremismo político ou religioso (neste caso, chamado de fundamentalismo).
Enquanto todas as formas de conflito, inclusive as guerras, levam a uma
solução, seja pelos processos de acomodação, seja pela assimilação, o mesmo não
ocorre com o terrorismo. Incapaz de impor-se pela ação política ou pela força
das ideias, ele procura destruir o adversário sem medir as consequências.
Durante certo tempo, cientistas
sociais consideraram o terrorismo uma característica de sociedades retrógradas.
Alguns chegaram a supor que o processo de modernização das sociedades iria,
cedo ou tarde, pôr um fim aos atentados, mesmo que em um ou outro lugar
pudessem ocorrer atos isolados.
Os acontecimentos mais recentes,
contudo, não comprovam essa teoria O sacrifício de pessoas em nome de uma causa
entre, dessa maneira, na era da globalização.
O atentado de 11 de setembro de
2001 – quando foram destruídas as torres gêmeas do World Trade Center de Nova
York, nos Estados Unidos – mostra que nenhum país está imune a esse perigo. Ele
pode atingir igualmente militares e civis inocentes; pode ocorrer na Nigéria,
na Arábia Saudita, na Inglaterra, nos Estados Unidos ou em qualquer outro lugar
do mundo.
O terrorismo encontra adeptos
entre pessoas e grupos que se sentem excluídos num mundo que está se
globalizando rapidamente. Alguns deles temem perder suas culturas e tradições
religiosas, como ocorre com os fundamentalistas muçulmanos. Outros se desesperam
porque estão impedidos de ter sua própria pátria – ou seja, seus Estados
nacionais e soberanos. Este é o caso dos curdos, na Turquia e no Iraque, e dos
palestinos no Oriente Médio. Em sua ação devastadora, provocam uma reação
igualmente perversa: o terrorismo de Estado.
Acomodação
Nem todo conflito termina com a
extinção do oponente derrotado. Em alguns casos, este pode aceitar as condições
impostas pelo vencedor para fugir à ameaça de destruição. Ocorre, assim, um
processo de acomodação, pois o vencido aceita as condições do vencedor e adota
uma posição de subordinação.
A escravização dos povos
vencidos, comum na Antiguidade, é um caso típico de acomodação. Quando alguém
cumpre uma lei ou segue um costume com os quais não concorda, só para evitar
sanções ou divergências, também se enquadra num processo associativo de
acomodação. Da mesma forma, um estrangeiro pode não apreciar o modo de vida do
país que reside, mas acaba por aceitá-lo para evitar constrangimentos.
Normalmente, muitos imigrantes
entram num processo de acomodação quando chegam a outro país: deixam de lado
sua língua e seus costumes, adaptam-se à nova vida, procurando se prevenir
contra possíveis conflitos.
Desse modo, a acomodação é o
processo social pelo qual o indivíduo ou o grupo se ajusta a um situação de
conflito, sem que ocorram transformações internas. Trata-se, portanto, de uma
solução superficial de conflito, pois este continua latente, isto é, pode
voltar a se manifestar. Isso ocorre porque nos processos acomodação continuam prevalecendo
os mesmos sentimentos, valores e atitudes internas que separam os grupos. As
mudanças são apenas exteriores e manifestam-se somente enquanto comportamento
social.
Os escravos, por exemplo, nunca
aceitaram a situação de servidão que lhes era imposta. Apenas se acomodavam à
dominação, mas sempre que podiam se revelavam. Revoltas de escravos aconteceram
em diversas épocas da História. A mais famosa delas ocorreu na península
Itálica entre 73 e 71 a.C., quando cerca de 120 mil escravos se reuniram sob a
liderança de Espártaco e formaram um exército que chegou a ameaçar o poderio de
Roma.
A acomodação é, assim, o
ajustamento de indivíduos ou grupos apenas nos aspectos externos de seu
comportamento. Ela atenua o conflito. Mas este só desaparece com a assimilação.
Assimilação
A assimilação é a solução
definitiva e mais ou menos pacífica do conflito social. Trata-se de um processo
de ajustamento pelo qual os indivíduos ou grupos antagônicos tornam-se
semelhantes. Difere da acomodação porque implica transformações internas nos
indivíduos ou grupos, sendo estas geralmente inconscientes e involuntárias.
Tais modificações internas envolvem mudanças na maneira de pensar, de sentir e
de agir.
A assimilação se dá por
mecanismos de imitação, exigindo um certo tempo para se completar. É um
processo longo e complexo.
O exemplo típico de assimilação é
o do imigrante. Ele, que a princípio se acomodou no novo país, vai aos poucos,
sem perceber, deixando-se envolver pelos costumes, símbolos, tradições e língua
da nova pátria.
No Brasil, tivemos vários casos
de assimilação, entre os quais o dos alemães em Santa Catarina e o dos
italianos em São Paulo. No início, esses imigrantes falavam sua própria língua
e conservavam seus valores e costumes. Ao preservar essas características, cada
grupo se constituía em uma espécie de corpo estranho na sociedade brasileira.
Apenas quando as características
marcantes da cultura de origem se atenuaram ou se desfizeram – sendo
substituídas pelos hábitos e costumes locais – os imigrantes puderam ser
assimilados pela nossasociedade. Com o tempo, eles se desfizeram de sua
identidade cultural e passaram a observar os sentimentos e valores da nova
cultura, tornando-se parte integrante da sociedade adotada.
Concluindo, o aspecto importante
da assimilação é que ela implica uma transformação da personalidade. O processo de assimilação atinge áreas profundas e
extensas da personalidade, determinando novas formas de pensar, sentir e agir.
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